O que você já foi em 22 anos?

Nesses vinte e dois anos de vida eu já fui muita coisa.

Já fui um anjo de tênis velho no pé, boné, cabelos cacheados e blue jeans. Já dei uma de Cebolinha. Já fiz até show de rock tocando Trem Fantasma. Já dancei inúmeras quadrilhas, e já entrei na salão de formatura cantando ‘Vamos Construir’, da Sandy & Júnior. Já confiaram tanto em mim, que eu já fiz até juramento no palco da formatura.

“Pensando no meu futuro, prometo lembrar tudo de bom que eu construí na Escolinha Arco-Íris”. Ou qualquer coisa que o valha, num juramento que se repetia todos os anos, durante muito e muito tempo.

Eu já fiz karatê – e desisti de apanhar assim que perdi de 10×0 no campeonato que me deu minha faixa amarela. Já ganhei segundo lugar em uma competição de natação, onde só perdi porquê parei pra olhar aonde estava a minha – única, sejamos francos – competidora. Já fiz aula de piano e nunca levei à sério. Já fiz aula de baixo, e percebi que queria mesmo era saber fazer todos aqueles acordes que eu teimava em achar extremamente impossíveis no violão. Já fiz aula de violão, e até hoje não sei fazer todos aqueles acordes. Eu já até fiz aula de dança de salão, mas nunca aprendi nada além do básico no forró.

Eu já andei na turminha dos populares, e também já passei um tempo só conversando com a turminha dos excluídos. Já fui de uma sala que, contando a minha pessoa, somávamos cinco alunos. E já fui só mais um num colégio onde as séries iam até a letra J!

Já fui apaixonado pela garota mais linda da escola e – pra felicidade do restante da vida – eu sei que ela também gostava de mim. Já fui apaixonado por inúmeras outras garotas lindas das escolas… Mas nenhuma igual àquele primeiro amor de infância. Já levei foras animais, e já namorei a nerd mais bonitinha da turma. E a troquei pelo sorriso mais divertido, e caloroso que eu já conheci. Já fiquei com a secretária da academia, em um dia que até hoje me surpreendo como pôde ter dado certo! Já fui apaixonado pela princesa da cidade, e já namorei a garota mais fácil da escola. Dei uns amassos aqui e alí, e no geral, consegui ser feliz.

Nunca fui apaixonado por nenhuma professora, o que me deixa um pouco triste. Como se parte da minha infância não tivesse sido vivida. Acho que, na real, eu ainda estava muito ocupado pensando na loira de cabelos cacheados que não parava de sorrir pra mim.

Já fiz muita merda nessa vida também. Felizmente, nenhuma grande o suficiente para que meu nome tenha sido riscado da lista de herdeiros da família. Nunca quebrei nenhum osso do corpo, mas já cortei minha mão esquerda enquanto brincava de pique em uma casa em reformas. Já briquei com uma colega de sala, de sair na porrada e tudo o mais. O aparelho dela cortou meus dedos da mão direita. Já briquei também com o valentão da sala. O porquê eu não sei até hoje. E já bati sem motivo algum no meu melhor amigo, no meio do meu aniversário de cinco ou quatro anos.

Eu já fui Batman, Homem-Aranha, Power Ranger Verde, e mais um tanto de outros super-heróis. Já fui mosqueteiro, motoqueiro, e até ganhei um concurso de melhor fantasia como o Corvo, num Halloween qualquer.

Já morei em cidade grande, média, pequena, e em Indianópolis – no Triângulo Mineiro. Pra se ter uma noção, você conhece a cidade inteira em dez minutos. De carro!

Já tive que correr de menino de rua, e já ignorei uma ameaça de morte. Engraçado que o primeiro foi numa cidade muito menor do que no segundo.

Nunca ganhei nenhum bingo, loteria, bolão, quermesse, nem nada que o valha. Dizem que “sorte no amor, azar no jogo”. No meu caso, eu entrei na fila do “azar” nas duas vezes.

Já escrevi histórias imensas em um caderno velho que hoje já virou comida de traças. Já fiz um filme em que o serial killer matava suas vítimas com um barbeador. Produção totalmente em inglês, e apresentada com grande sucesso no acampamento da escola de línguas. O pessoal adorou a história nonsense!

Já tive bons amigos que tinham ideologias COMPLETAMENTE diferente das minhas. Aliás, em amigos eu sempre estive bem servido de pessoas insanas. Divertido pensar que, aqueles que eu mais me lembro de passar bons momentos, são os que na época eu tinha certeza de que não iam com a minha cara.

Já brinquei no quintal de casa, no quintal do vizinho, no clube com amigos, no clube sozinho. Já brinquei de empurrar carrinho, e com nada além da minha imaginação. Já passei horas deitado nas árvores do estacionamento do clube, pensando em nada. E às vezes imaginando que elas eram uma imensa nave espacial. Já brinquei de pique-pega, de pique-alto, de pique-cola, de pique-bandeira, de polícia e ladrão, de casinha – é, de casinha sim. Qual o preconceito? -, de pular corda, pular elástico, de “mês” – minha brincadeira favorita até hoje –, de passa anel, de “pera, uva, maçã ou salada mista” – onde ninguém NUNCA tinha coragem de pedir salada mista –, de amarelinha, e de tanta coisa mais que minha memória nem consegue resgatar, tanto tempo que faz.

Já vi meu melhor amigo ficando com a menina que eu era afim. Já falei não pra menina que eu era afim porquê um amigo também gostava dela. E já fiquei com a garota que eu estava afim, mesmo sabendo que um amigo nosso era apaixonado por ela – e essa é uma decisão que eu me arrependo até hoje.

Já tive um irmão ausente, um irmão pentelho, um irmão amigo, e hoje tenho um irmão-irmão. Meus pais sempre foram a mesma constante de amor e respeito na minha vida. Nunca fui chegado em família fora nós quatro. Nunca me fizeram falta igual eu – hoje – sei que um dos três me fariam.

Já aconteceu tantas e tantas coisas nesses vinte e dois anos e, ainda assim, apesar de tudo o que eu escrevi, muita coisa divertida e gostosa me escapou da memória. Como os tombos de bicicleta – sempre tentando imitar alguém –, ou as horas tocando violão como se fôssemos os reis do pilotis, e até mesmo a pista de motocross que virou refúgio da meninada com bicicletas.

Gostoso lembrar disso tudo, mais uma vez. Mas mais gostoso ainda é saber que o futuro ainda me reserva muito, muito mais!

Parabéns pra mim. 🙂

4 comentários sobre “O que você já foi em 22 anos?

  1. Hahaha, me identifico com várias coisas. Eu tbm nesses 22 anos já briguei com o valentão da escola e machuquei meu melhor amigo (mordi ele quando ele tentou separar a briga entre eu e o “valentão”). Isso que sou uma pessoa super pacífica e contra qualquer tipo de violência, hehehe.
    Também já abri mão de mulher pelo melhor amigo e ele já fez o mesmo por mim… Já andei com o populares e já andei com o excluídos…
    Só falta dizer que vc trabalhou na Disney tbm! Já?!?!?!
    hahahahahaha

    PS: Quanto a briga com o “valentão”, apesar de ter terminado com eu quebrando uma vassoura na cabeça do cara, não sofri nenhuma sanção além de uma leve repreensão… Nem a Diretora tinha mais paciência com o sujeito, virei um tipo de unspoken hero, rs

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  2. Pingback: Resoluções 2009 « 14 de Março

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